sábado, 9 de julho de 2011

Oi, dessa vez para o inverno.

Abri os olhos e senti meus pés congelarem quando os coloquei no chão, logo olhei para a janela e a vi toda embaçada, tamanho o frio que deveria ter feito naquela noite. Já até conseguia ver a notícia no jornal, a noite mais fria do ano nessa pequena cidade do interior que só dizia oi para o calor. Então eu levantava da cama e preparava um café, e a partir daí começa minha rotina. A única mudança nela era o que hoje me faria lembrar de você. Então eu me agasalhava e saia, sem rumo, sem nada, apenas saia sem saber como voltar. Eu olhava para os casais e me perguntava onde estava o erro em mim. 
O fato de estar frio só piorava aquela necessidade de alguém para abraçar, de alguém para lhe emprestar uma blusa mesmo que ele morresse de frio, resumindo, faltava o calor de qualquer romance sincero que no inverno só deixava ainda mais sua marca.
E eu andava, andava para esquecer e para fingir não pensar, na verdade me distraia facilmente mas sempre tropeçava na irritante realidade, como se você acordasse de um sonho e tentasse voltar. Na maioria das vezes não conseguimos. Eu passava despercebida na maioria das vezes e isso não me irritava, eu sempre gostei de observar as pessoas sem ser vista.
Eu corria no vento gelado, isso era outra sensação de liberdade que o inverno me proporcionava, eu ficava mais carente, acolhedora. Quem resiste ver um cachorro sozinho na rua e não lhe comprar algo para comer? Não que eu não faça isso no calor, mas no frio, pra mim é outra historia. Logo fui comprar.
Sai da lanchonete com um prato de plástico na mão, sentei na praça onde estava o cachorro e ele veio ao meu encontro como se não visse comida há anos, coloquei no chão e fiquei o vendo comer. Olhando pra baixo, distraída, nem pude perceber que alguém se aproximará, só percebi quando ele disse:
- Você sempre faz isso?
Eu meio que despertei de outro sonho.
- Oi?
- Você sempre quando encontra um cachorro faz isso?
- Sempre quando eu posso.
- Ah, sabia que o dono da lanchonete não gostou? Ele resmungou dizendo que ele não gasta dinheiro pra fazer comida e alguém vir comprar e dar pra um cachorro de rua.
- Ah, eu nem ligo, eu comprei e faço o que quiser certo? Dei dinheiro, ele deveria estar feliz, o que faço com o que compro ai já é problema meu. Sem querer ser grossa.
Ele deu um sorriso de lado e eu também. Por fim ele disse.
- Vamos tomar um café? Eu levo o Nick.
- Nick?
- Esse aqui – Ele abaixou e pegou o cachorro
Eu simplesmente sorri, e fomos juntos tomar café. Nós três, e nada mais foi capaz de nos separar.
A partir daí o inverno escreveu sua história.
ps: adotamos um gato também agora.

Este texto faz parte da tag "De Quinze em quinze" do blog depoisdosquinze.com )