sexta-feira, 1 de outubro de 2010

das feridas que não cicatrizam

Dia desses me disseram que eu não tinha medo de me entregar, que eu tinha era preguiça de pensar, de pensar sobre mim, onde eu estava errando, em tudo o que aconteceu nos meus últimos relacionamentos e fazer um balanço de tudo que vem dando errado, para que assim eu pudesse assumir a parte que me cabe, mudar e tentar fazer diferente nas próximas vezes.

Okay, admito que fui pega.

Pode ser isso também, afinal, é fácil fazer um balancete e constatar que você também fez merda, é mais fácil ainda dizer “eu vou mudar”, mas mudar de fato, não é tão fácil assim.

Existem coisas, digo, feridas mais profundas que certa vez doeram tanto que acabaram criando um tipo de memória por erros, quer dizer, sabendo o quanto vai doer tocá-la novamente, você prefere fingir que tudo melhorou e segue em frente. Vez em quando pensa nela, acha que a vida vai ser melhor se tratá-la de uma vez, mas daí lembra da dor e bom, é melhor deixar assim.

Algumas mudanças vão além de um corte de cabelo ou uma nova tatuagem, algumas mudanças vão além de ser mais paciente e saber ouvir, algumas mudanças tem a ver com olhar-se no espelho e finalmente dizer “meu Deus, como eu sou linda”, para que então você possa enfrentar o mundo ciente de que todas as pessoas são bonitas, inclusive você, para que finalmente você possa olhá-las de frente e amá-las sem se desculpar por isso. Algumas mudanças tratam-se de insegurança, aquela que você cultiva desde os cinco anos de idade quando riram da sua cara por que você pediu para ir fazer xixi, ao invés de dizer “eu quero usar o banheiro”, aquela insegurança que não lhe permite pensar em voz em alta, olhar nos olhos e amar de corpo de alma.

Então ao saber de tudo isso o que você faz? Nada.

Você se sente com oito anos de novo, tentando entender pra que diabos serve o mundo e esse coração que acelera toda vez que aquele menino bonito passa no corredor.

Enquanto isso as pessoas que te conhecem repetem o mantra: “Faz alguma coisa, você não tem mais oito anos!”

Pois é, não tenho.

Não tenho e o quero como nunca quis ninguém, mas quero também poder olhar em seus olhos e dizer: “Eu te quero” e não culpá-lo caso ele não me queria de volta. Não ME culpar caso ele não me queira de volta. Eu quero dizer em voz alta todos os meus pensamentos e não sentir o corpo queimando como quem comete uma terrível travessura. Quero falar o que penso com a certeza de quem viveu cem anos.

Mas primeiro eu quero entender como cutucar a ferida vai diminuir a minha dor.

créditos: depoisdosquinze

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